terça-feira, 26 de abril de 2011

Recordação

agora, o cheiro áspero das flores
leva-me os olhos por dentro de suas pétalas.
eram assim teus cabelos;
tuas pestanas eram assim, finas e curvas.

as pedras limosas, por onde a tarde ia aderindo,
tinham a mesma exalação de água secreta,
de talos molhados, de pólen,
de sepulcro e de ressurreição.
e as borboletas sem voz
dançavam assim veludosamente.

restituiu-te na minha memória, por dentro das flores!
deixa virem teus olhos, como besouros de ônix,
tua boca de malmequer orvalhado,
e aquelas tuas mãos dos inconsoláveis mistérios,
com suas estrelas e cruzes,
e muitas coisas tão estranhamente escritas
nas suas nervuras nítidas de folha
- e incompreensíveis, incompreensíveis.


Cecília Meireles

sexta-feira, 22 de abril de 2011

...e disseste que gostavas tanto de amarelo e eu disse que amarelo era tão vida e sorriste compreendendo e eu sorri conseguindo e vimos uma margarida e nem sequer era primavera e disseste que margarida era amarelo e branco e eu disse que branco era paz e disseste que amarelo era desespero e dissemos quase juntos que margarida era então desespero cercado de paz por todos os lados.

Recuerdos

"Era perfectamente natural que te acordaras de él a la hora de las nostalgias, cuando uno se deja corromper por esas ausencias que llamamos recuerdos y hay que remendar com palabras y com imágenes tanto hueco insaciable."
Julio Cortázar

Opa, é natural? Ufa, menos mal...


Câncer e o Amor:
Os cancerianos costumam ser excelentes amigos, pois dão muita importância aos sentimentos e tem instinto de tomar conta dos outros. Ao se sentirem atraídos por alguém, examinam cuidadosamente o terreno e demoram para tomar as iniciativas. São maravilhosamente sensuais, românticos e delicados, dando muita atenção ao ambiente romântico de que ele necessita para expressar seus sentimentos. Podem mudar de humor facilmente, ou se fechar como ostras para não expor os seus sentimentos, o que dificulta as vezes o relacionamento. Não esqueçam, um relacionamento duradouro é também baseado nas discussões francas.

We all shine on...

Pessoas são como diamantes.

Quase-carta

Penso sempre em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assentada aos poucos, e com mais força enquanto a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos. Tão transparentes que até parecem de vidro, vidro tão fino que, quando penso mais forte, parece que vai ficar assim "clack!" e quebrar em cacos, o pensamento que penso de você. Se não dormisse cedo nem estivesse quase sempre cansada, acho que esses pensamentos quase doeriam e fariam "clack!" de madrugada e eu me veria catando cacos de vidro entre os lençóis.
Brilham, na palma da minha mão. Num deles, tem uma borboleta de asa rasgada. Noutro, um barco confundido com a linha do horizonte, onde também tem uma ilha. Não, não; acho que a ilha mora num caquinho só dela.
Coisas assim, algumas ferem, mesmo essas são sempre bonitas. Parecem filme, livro, quadro. Não doem porque não ameaçam. Nada que eu penso de você ameaça. Durmo cedo, nunca quebra.
Daí penso coisas bobas. Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você. Assim: de repente ao dobrar uma esquina dou de cara com você que me prega um susto de mentirinha como aqueles que as crianças pregam umas nas outras. Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar um sorvete, suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de frutas em qualquer lugar. Assim: estou pensando em você e o telefone toca e corta meu pensamento e do outro lado do fio você me diz: estou pensando tanto em você! Digo, eu também, mas não sei o que falamos em seguida por que ficamos meio encabulados, a gente tem muito poder de parecer ridículos, melosos, piegas, bregas, românticos, pueris, banais. Mas no que eu penso, penso também que somos mesmo meio tudo isso, não tem jeito.
No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um pouco tola, meio melodramática, e penso então tule, nuvem, castelo, seda, perfume, brisa, turquesa, vime. E deito a cabeça no seu colo ou você deita a cabeça no meu, tanto faz, e ficamos tanto tempo assim que a terra treme e vulcões explodem e pestes se alastram e nós nem percebemos, no umbigo do universo. Você toca na minha mão, eu toco na sua.
Demorar tanto que só depois de passarem três mil dias consigo olhar bem dentro dos seus olhos e é então feito mergulhar numas águas verdes tão cristalinas que têm algas na superfície, ressaltadas contra a areia branca do fundo. Encontro pérolas. Sei que é meio idiota, mas gosto de pensar desse jeito.
Penso tanto em você que na hora de dormir vez em quando até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito em voz baixa "te amo, dorme com os anjos".
Mas depois sou eu quem dorme e sonha, sonho com os anjos.
Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundo do mar. "Clack!" como se fosse verdade, um beijo.

Palavras soltas

Das duas uma: ou eu ando menos crítica ou estou tendo dias melhores ultimamente. A melhor parte é que minha vida está totalmente revirada, de cabeça para baixo, tudo fora do lugar - e eu achando coisas boas no meio disso tudo. Ironia, teu nome é Nayla.
A vida te dá escolhas, mil caminhos para ir em frente e poucos retornos para compensar. Sabe como é se sentir assim? Sempre fui intensa, sempre tive essa mania canceriana de me jogar de cabeça em tudo o que faço. Pois bem, isso gera resultados. Tanto coisas interessantes quanto às vezes uma imensa vontade de voltar atrás. E não dá. É impossível refazer o passado. Tudo se encaminha conforme a gente direciona. E a vida não tem backspace.
E até essa dor no estômago dá pra entender como uma metáfora. É a vida me lembrando das borboletas que vivem aqui dentro e que nunca morrem. São lindas, coloridas, foram criadas com amor e não há nada que as possa destruir

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A mil


"tudo em mim
anda a mil
tudo assim
tudo por um fio
tudo feito
tudo estivesse no cio
tudo pisando macio
tudo psiu

tudo em minha volta
anda às tontas
como se as coisas
fossem todas
afinal de contas."

Paulo Leminski

Delícia de época boa! Tudo acelerado, tudo a mil, mas tudo perfeitamente encaixado; tudo onde deveria estar.