segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A toast to never

"if you close the door, the night could last forever,
leave the wineglass out and drink a toast to never..."

Sentou no único banco que restava. Um rapaz tinha acabado de levantar e ela correu, desastrada, esbarrando em malas e pessoas no caminho. Sentou, colocou o fone de ouvido. Fechou os olhos. O shuffle parece sempre querer lhe dizer alguma coisa, será que isso só acontece com ela? As músicas sempre fazem sentido. Nunca toca Coldplay em dias alegres ou Little Joy em dias tristes. Abriu os olhos. Observou a multidão que passava. As pessoas sempre passam, andam, correm. Pra onde? Pra quê? Suspirou fundo. Melancolia, sua velha amiga, sempre presente. Hoje não seria diferente. Hoje, terceiro dia desde o dia da decisão que tomou, acreditando que sua vida iria mudar pra sempre. Pra sempre? Mas como é exagerada, dramática, vê se se aquieta, menina. "Viva o hoje, que o ontem já foi e o amanhã ninguém sabe se vem", diria sua mãe. E adianta dizer? Não, não adianta. Ela é assim, exagerada, dramática, ansiosa, não adianta pedir que não vai se aquietar. Lembrou dela mesma, ali, três dias antes daquele. O sorriso dela, o sorriso dele, o reencontro, as inúmeras possibilidades. As vontades, os desejos, os sonhos. E o frio na barriga. O abraço apertado. O "você não faz ideia de como eu senti sua falta". E puff!, o pensamento se esvaiu. Abaixou a cabeça, trocou de música, limpou o cantinho do olho. Chorar no aeroporto fica feio, para com isso. Olhou pra frente e viu um casal discutindo. Sentiu inveja. Inveja? De gente discutindo? Desde quando, menina? Inveja dos dois ali. Inveja de todas as relações, de todos os sentimentos, de todas as sensações de verdade. Ali, os dois, discutindo, representando tudo o que um casal pode representar. Ele gritava, ela pedia pra ele falar baixo. Tão humanos, tão reais, tão casal. Sabe como? "Nos deseamos y hasta a veces sin motivo y sin razón, nos enojamos..." Nada mais casal do que brigar. Reconciliar. Se chatear, bater a porta, voltar atrás. Isso em relacionamentos de verdade. Não naqueles relacionamentos criados pela cabeça da gente, situações da cabeça da gente. Quase um amor virtual. "Mas você se entrega demais, para com isso!", dizem suas amigas. Mas ela não consegue. Não consegue, não adianta. Se apaixona, desapaixona, faz besteiras, toma decisões, se arrepende. E no meio disso tudo, já se entregou, já amou, desamou, sofreu. E de novo, e de novo, e de novo. Viu o casal que discutia se abraçando e se beijando. Sorriu um sorriso triste. Por tudo o que não foi e poderia ter sido, por tudo o que poderia ter sido e não foi. E levantou do banco, que a moça do alto-falante chamava pelo seu vôo. "Toma jeito, menina", pensou. Aquela cidade, nunca mais.

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